terça-feira, maio 24, 2005

Era uma vez...Uma Formatura




Texto explicativo retangular com cantos arredondados: Uma outra história


Era uma vez...Uma Formatura

Por Maurício de Oliveira

Desde que se tem notícia, sempre existiu o “ritual de passagem”, ou seja, aquele em que as pessoas passavam para uma outra fase em suas vidas terrenas (ou para outros, até para o paraíso...).

Segundo minhas especulações, tudo teria início com a simples satisfação dos desejos mais que animais que se têm notícia – ou para usar uma linguagem suave – a simples perpetuação da espécie, ou seja, a concepção de uma vida. Pois existiria aí, a formação de um corpo e mente, a qual se transformaria e/ou se formaria, assim sucessivamente, até o seu último suspiro de vida...

Sendo assim, dito desta forma, seria algo mais que normal em nossa existência, contudo, se “formar” em um curso de graduação plena, numa das melhores e maiores universidades públicas, de um país tão desigual como o nosso, não é sempre que se consegue. Então gostaria de falar um pouco a respeito do ritual de minha (nossa) formatura (como Pedagogo!?) em maio de 2005/UERJ.

Toda história tem um início, e ele, muitas e muitas vezes é engavetado como se nunca tivesse existido, assim como também há versões que tratam o começo de forma diferente e/ou retratam sobre determinado prisma ou ótica.

Bem, para esta história não ficar muito mais longa do que já está, afinal de contas era para falar apenas dos minutos finais daquela fatídica noite inesquecível da nossa formatura. Digo que na escuridão, junto com alguns pontos de luz que dominavam o clima no dia 03 de maio, as pessoas da platéia e os formandos em grande número, não poderiam suspeitar que as emoções seriam sacudidas – e que as estrelas que brilhavam lindamente no céu daquela noite fora do Teatrão, não poderiam testemunhar – as palavras nuas, cruas, frias e esdrúxulas que foram pronunciadas, e que iriam tentar cortar, como uma navalha invisível, a harmônica felicidade que pairava em tão encantador ambiente.

[...]

Organizar uma formatura (ou ao menos tentar colaborar para a sua realização) seria uma tarefa complicada para qualquer grupo, e em nosso caso, não poderia ser uma exceção, visto que nenhum de nós da comissão, jamais havia participado – detalhadamente - de formatura alguma.

O primeiro contato com as empresas prestadoras de serviço, com suas propostas quase que indecentes – as quais nos mostravam produtos já prontos, e modelos de convites – parecia ser algo muito fácil. Pois a partir do momento que contratamos uma empresa para fazer o serviço, imaginava-se que não deveriam existir mais problemas .

Pois é!

Mas como diz o ditado popular: “alegria de pobre dura pouco”.

E a simples escolha da empresa para “ganhar” a nossa grana, já havia sido um desgaste impressionante, com reuniões exaustivas, disputas gigantescas por mais espaço, e brios pessoais que lutavam para “aparecer, ganhar e/ou usufruir” mais que outros. Sem contar os gastos financeiros com telefonemas e interrupções em sala de aula, e isso foi só para a escolha da empresa, e saibam que há detalhes que não podem nem ser postos aqui, como problemas pessoais e emocionais.

Insinuações percebidas de que “não-formandos” sentiram-se discriminados por não terem sido consultados sobre a escolha da empresa ganhadora (pois não obtiveram quaisquer tipo de vantagens, pelo menos com o conhecimento da comissão) poderiam ser traduzidas como os sintomas das primeiras desavenças que iriam culminar em quase 2(dois) anos depois, ou porque não dizer, justamente na noite tsunâmica da nossa formatura.

As assinaturas dos contratos , a entrega dos carnês, o número grande de adesões e posteriores desistências foram partes importantes, mas não falarei aqui, exceto o fato de que a digníssima direção da faculdade fez o que pode para desestimular as pessoas a participarem das assinaturas dos contratos, usando inclusive seu poder de barganha e influência dentro das salas de aula, e junto com outros formandos, muitos dos quais que os procuravam para outros assuntos e eram intercalados sobre o mesmo.

No decorrer de todo o processo, fatos marcantes iam surgindo cada vez mais, e um deles foi no tocante à decisão de quando seria a realização da colação de grau e o pedido de reserva do Teatrão (da UERJ) para dois dias. Isto ocasionou em uma batalha, com interferência negativa por parte dos representantes da faculdade. A comissão chegou a discutir esse assunto no Conselho Departamental e obteve vitórias, que depois foram perdidas com um simples bate papo do diretor da nossa unidade com um representante da empresa, que foi “lembrado” de que a direção não aceitaria “fazer” a colação em dois dias. Como resultado, a empresa questionou junto à comissão, a sua planilha de custos, assim como a respeito dos gastos que teria, expressando com isso, o desejo de cobrar a mais (pois não estava no contrato) o que tornou impraticável a vontade dos formandos de convidarem todos os seus familiares, amigos e outros colegas de faculdade de períodos anteriores. Algo triste para muitos, mas que de forma quase que sarcástica, comemorada por outros.

O desejo de vingança e/ou de podar as “asas” da comissão de formatura começava a surtir efeito, e mesmo com a moral baixa, encurralados pelo fim das aulas, estouro de prazos para estudar para as últimas provas, entregas e apresentações de trabalhos, escolas fechando para as férias – impossibilitando o fim das pesquisas de campo – construção de monografias mais que atrasadas, assim como outros empecilhos, faziam com que muitos de nós imaginassem em jogar a toalha e entregar os pontos.

O ar respirado por muitos era quase que sufocante com as discussões tornando-se cada vez mais freqüentes, quase que semanais, entre a comissão e a direção, que teimava em querer impor regras autoritárias, e até então incompreensivas e inexistentes, pelo simples fato de não haver um cerimonial que servisse de modelo.

Assim dizia a direção:

“Olha, tem que ser assim e assado, desse e daquele jeito!”

Contudo, existe um porém, descoberto pela comissão. A total ausência de um documento oficial da UERJ. Tudo deveria ser como nossos digníssimos achassem ético, moral e respeitoso, senão eles não participariam, e sendo assim, não haveria colação de grau no Teatrão, isso segundo suas próprias convicções e desejos. Nesse instante, a construção de defesas e a tomada de posições começava a se mostrar aparente, e as arestas em vez de serem aparadas, cresciam como as flores do campo na primavera, e esquentavam como o sol do verão carioca.

Não podemos esquecer que éramos universitários, e quer acreditemos ou não, da mais conceituada Faculdade de Educação do Brasil, com conceito A+, por mais questionável que seja essa classificação (que não vem ao caso). E assim sendo, construímos e reformulamos nosso modo de ver e contextualizar o mundo que nos cerca, e aceitar passivamente coisas impostos , como receitas prontas que nos dizem que isto é certo ou errado não podem fazer parte de nossas histórias sem nenhum questionamento, ainda mais quando notadamente diz respeito a conceitos arraigados de autoritarismo, arrogância e prepotência, que teimavam em não levar em consideração nossos desejos, vontades, visões éticas, morais e comportamentais.

[...]

Tudo parecia calmo depois do fim das aulas , assim como das exaustivas e emagracedoras preparações e desgastantes apresentações de nossas monografias. Imaginava-se, nos bastidores, que os preparatórios para a tão esperada noite da formatura não sofreriam mais nenhum embate. Todavia, esses puros, ingênuos e inocentes pensamentos ainda seriam surpreendentemente violentados pela atitude impressionantemente autoritária do vice-diretor da faculdade.

Fazendo-se valer persuasivamente de autoridade máxima e legítimo representante “de todos os formandos” da Faculdade de Educação, o vice-diretor passou por cima do combinado com a comissão de formatura e retirou senhas para serem distribuídas para todos os formandos, as quais seriam irmanamente entregues (num total de sete por formando) para todos os que se dispusessem a ir até a Faculdade buscá-las e entregá-las aos seus respectivos convidados. Tudo isso, dito e escrito dessa forma, parece que não há problema algum ou inconveniência. Entretanto , a nosso ver, esse foi o estopim de todos os problemas .

As aulas letivas haviam se encerrado em dezembro de 2004 e desde então, o contato constante entre todos os formandos e a comissão, estavam estritamente limitados a pequenos encontros, como por exemplo assistir às apresentações de algumas monografias – que foram até o dia 25 de fevereiro de 2005 – e problemas individuais na Faculdade.

Pausa...

Neste ponto torna-se necessário esclarecer que apesar das insistências da comissão de formatura, o encaminhamento para a reserva e pré-confirmação da data de nossa colação do Teatrão, só veio ocorrer em março de 2005, por mais absurdo que isso possa parecer, mostrando um total descaso e descompromisso da direção da Faculdade para com seus alunos e seus representantes.

Fim da pausa...

É preciso lembrar que os preparatórios para uma formatura são feitos com muitos meses de antecedência, e a comissão de formatura, fazendo-se valer de sua representatividade e com o conhecimento da direção da faculdade, já havia entrado em contato telefônico com o responsável pelo Teatro Odylo Costa , Filho, vulgo Teatrão da UERJ – no início de abril de 2005, ou seja, faltando menos de um mês para a formatura, pois fora o único momento possível, e confirmado a reserva e a não solicitação de senha para entregar aos formandos, pois não queríamos constranger as pessoas que não contrataram o “coquetel”, ou para ser mais exato, que por quaisquer motivos não quiseram ou puderam participar do cerimonial pago pelos formandos.

Dessa forma, T O D O S estariam habilitados a comparecer a colação de grau – que é um direito de todos – com seus familiares e/ou amigos , num total de 10 (dez) convidados cada,. isso contratantes ou não do “coquetel”. Com esse pensamento, não existiria ninguém para vigiar, controlar, ou exigir qualquer senha que limitasse a entrada no teatro, ou que as pessoas que não “pagaram” não imaginassem que haveria qualquer comissão ou segurança que as apontassem como não pagantes. Pois isso seria além de constrangedor para nossos próprios colegas que estudaram conosco 04 (quatro) anos, quanto para seus convidados. A única limitação, que fora amplamente comunicada aos formandos, era a lotação do local – 1.106 lugares – e a consciência de cada formando para com seu número de convidados.

A comissão assinou um documento de cessão do teatro ou melhor dizendo, “um termo de permissão de uso”, se responsabilizando por quaisquer danos causados ao local, e na ocasião foi também definido e confirmado com 15 (quinze) dias de antecedência da colação de grau, que respeitaríamos rigorosamente a lotação – Parágrafo Único, da Cláusula Segunda do “termo de uso”. Feito isso, a comissão percebeu que seria inviável a retirada das senhas faltando menos de 15 dias corridos – e não úteis, pois no final de abril existiram alguns feriados e/ou pontos facultativos – para a realização da formatura, pois não teríamos como nos comunicar com todos os formandos, assim como estes se dirigirem à faculdade para apenas retirar senhas, que segundo seus pensamentos não seriam necessárias, pois em dezembro de 2004, na ocasião do fim das aulas, já havia sido informado que não retiraríamos senhas, para não constranger qualquer pessoa.

Fazendo-se valer do bom senso, e da Cláusula Sétima, do Contrato de permissão e uso, feito entre a comissão e a UERJ, que diz : “Será de exclusiva responsabilidade do PERMISSIONÁRIO (leia-se aqui, a comissão) toda e qualquer divulgação do evento do presente termo”. Nós divulgamos que não exigiríamos senhas para a entrada dos convidados, isso lembramos mais uma vez, com quinze dias de antecedência, e tornou-se consenso entre todos os formandos.

Qual não foi nossa surpresa e indignação quando na noite da terça-feira, dia 26 de abril de 2005, ou seja, faltando menos de 4 dias (úteis) para a formatura, um telefonema aterrorizante corta o sono harmônico de todos . Do outro lado da linha , uma voz tentando ser gentil e educada, da secretária da direção diz: Alô, Maurício? Aqui é a ..., estou te ligando, em nome do Profº Henrique, para dizer que ele passou lá na UERJ (Maracanã) e retirou as senhas para serem entregues a todos os formandos, e que VOCÊ , e o restante da comissão devem entrar em contato com TODOS os formandos, e avisá-los que devem vir aqui retirar as suas respectivas senhas.

No mesmo instante, apõs ouvir tão apocalíptica notícia, dissemos que isso não seria possível e que se não retiramos as senhas com 15 dias antes – por que não tínhamos condição de falar com todos - imagina agora, faltando três ou quatro dias! Explicamos que isso seria impensável e impraticável, pois se não conseguíssemos falar com um só formando (arcando com todos os custos financeiros e emocionais) que fosse, isto já seria um desrespeito para com ele. Assim como uma “quebra de contrato verbal”.

Mesmo com todas as conversas, argumentos, pedidos e solicitações, a Direção se mostrou irredutível, e manteve as suas posições autoritárias e antedemocráticas, pois não respeitara as decisões tomadas pela maioria, e que já haviam sido acertadas anteriormente. Diante de tudo isso, passamos a suspeitar que o silêncio percebido anteriormente – depois das discussões de março de 2005 – que premeditadamente a direção iria “trabalhar contra” a nossa formatura, isso apenas por capricho ou “rixas pessoais”, esquecendo-se que pelo contrário, deveriam sentirem-se felizes e estufar o peito em dizer para todos, que tinham orgulho de seus alunos, o que seria mais condigno com suas posições, e mostrariam o quão desejosos seriam ver e perceber que “seus” formandos têm vontades próprias, assim como personalidade e firmeza na tomada de decisões, e tudo isso, sem qualquer apóio da faculdade, tendo a capacidade organizacional de preparar tudo sem qualquer colaboração. E isso deveria ser motivo de orgulho, e não de desprezo.

Depois de longos dias literalmente chuvosos, em que as temperaturas pareciam de inverno, e não de meados do outono carioca, o sol voltou a brilhar radiante na manhã do dia 03 de maio de 2005. Parecia que o calor daquele dia, surgira para brindar a todos os formandos, o que seria mais um motivo de felicidade para todos os convidados. E no cair na noite, alheias a toda e qualquer escuridão, as estrelas surgiram para celebrar e alegrar ainda mais os que se preparavam para entrar no Teatro.

Mas as vibrantes sensações, por mais que imaginássemos que haviam acabado, estavam apenas se iniciando. E como nos filmes hollywoodianos que tentam retratar os concluintes de qualquer curso universitário, as maiores emoções e acontecimentos, estavam por vir, estivéssemos ou não preparados, pois o âmago, o clímax, iria acontecer no último ato dos minutos finais daquela noite memorável.

Para começar, e manter o clima tenso e incandescente, desde os primeiros momentos daquela noite, houve a tentativa de manter as portas fechadas do teatro por “ordem” do Diretor da Faculdade, a espera das tão famosas senhas, e que causou constrangimento às centenas e centenas de pessoas - dentre estas, os professores homenageados, pais idosos, crianças, e outras pessoas cansadas, por terem vindo direto do trabalho, etc... - que esperavam ansiosamente para ocupar seus lugares nas poltronas , na tentativa de reservar uma melhor posição para assistir aos seus entes queridos, pois, por mais absurdo que seja a idéia, ele (o Diretor) queria que as pessoas fizessem fila para pegar senha e entrar no recinto, algo inconcebível para uma pessoa de bom senso. Só para lembrar, no Teatro Odylo Costa , não existem bilheterias, ou “cordinhas” para organizar as pessoas, além do mais, o horário já estava apertado, beirando às 18h e tínhamos que seguir um cronograma, o qual já havia sido alterado em função de tanto atraso.

Com argumentos convincentes, conseguimos (nós da comissão) persuadir a responsável pelo local, a abrir os portões, e assumimos qualquer responsabilidade, e ou problema que isso viesse causar. Isso para muitos que estavam do lado de fora, e para muitos formandos que estavam trocando de roupas nos camarins, ou no coquetel do subsolo, passou despercebido.

Ao formarmos “em fila indiana” e iniciarmos as músicas para entrarmos no teatro, novamente o Diretor mostrou a que veio, ou seja, o desejo de “aparecer”, recusando-se a entrar e sentar-se à mesa, para dar início a solenidade. Este acontecimento chamou à atenção dos mais de 100(cem) formandos, além de seguranças, pessoal de apoio da empresa contratada, assim como da responsável pelo teatro. Algo absurdo que levou até ao cúmulo de duas colegas da mesma sala se estranharem, e agredirem-se verbalmente. ... cena deplorável e sinceramente lamentável, e que poderia ser racionalmente evitado, se o “digníssimo” não quisesse “aparecer” mais que os formandos. Depois de várias discussões, demos início com o Diretor à frente dos formandos.

Emocionados, os então universitários sentiram-se extasiados ao subirem ao palco ao som das músicas “We will rock you” e “We are the champions” do grupo “Queen”.Contudo, estas seriam o estopim para acender o explosivo discurso do Diretor da nossa unidade. E, alheia a tais pensamentos de reprovação, a cerimônia seguia lindamente, e de um lado os flashes das câmeras, e os olhares brilhantes das pessoas, com sorrisos largos e cheios de orgulho, aprovaram tudo aquilo, todavia, por outro lado, isso iria desencadear ainda mais a ira do representante máximo da Faculdade de Educação, que aproveitaria o momento oportuno, e que teoricamente já teria planejado, para falar mal dessas músicas, e da organização do evento ao seu final.

Vários momentos iriam marcar ainda mais aquela noite antes do encerramento e das palavras hostis pronunciadas pelo Diretor, e um desses instantes inesquecíveis, foi quando no pronunciamento do representante da Turma II, o José, este disse que “...para muitos (subentendendo-se ai, a Direção) seria um alívio de coração, se verem livres de nós formandos, pois não incomodaríamos mais, pois ali estavam aqueles que desafiaram o autoritarismo de muitos professores, além da própria direção, com protestos, filmagens, e exigências de mais professores e o cumprimento de cargas horárias, além de não aceitarem serem pelegos ou fantoches etc..., contudo, para muitos outros, iríamos deixar saudades, além das lembranças de um grupo que sempre quis estudar e dar valor à educação, mas o mais importante era isso, ou seja, deixar marcas, as quais seriam sempre lembradas”.

No fim da noite, veio então o ato derradeiro, aquele que ficará para sempre na memória das mais de hum mil pessoas presentes naquele evento. Pois ao receber o microfone para as últimas palavras de encerramento da cerimônia, o digníssimo diretor , acreditamos que num momento de delírio alucinógeno, disse: “... que estar ali naquele espaço, era uma grande infelicidade...”, além de que fizera questão de apontar para as pessoas que estavam vestidas de “beca” na primeira fileira, dizendo em alto e bom som , que elas estavam ali por que não tinham dinheiro, por não terem “pago” a formatura e que aquilo era um ato segregacionista, expressando o seu desejo de que elas estivessem no palco, junto com os outros formandos. Sendo que em nenhum instante, toda a platéia sequer suspeitara o por que daquelas pessoas estarem sentadas ali, nunca havia sido comentado isso, e nós conseguimos “de graça e com muita conversa”, a disponibilização das mesmas, caso as pessoas quisessem vestir e colar grau ali, junto com todos os outros. Ele, contraditoriamente (e infelizmente) constrangeu todos que estavam lá, não só os respectivos formandos, mas os seus convidados.

Como resposta foi dito que se a nossa unidade tivesse nos dado qualquer tipo de apoio ou estrutura organizacional, ou colaborado de qualquer forma, mostrando-se amiga e defensora de nossos direitos, e não inimiga, autoritária e contra seus próprios alunos, não precisaríamos estar ali. Contudo, aquele espaço era de direito de todos, e sendo assim, não poderíamos abrir mão daquilo, não tínhamos porque sermos privados daquelas belíssimas instalações. E no caso dos não contratantes dos serviços da empresa, foi lembrado que em instante algum eles foram constrangidos pelos outros colegas, por este ou qualquer outro motivo. E estavam ali, porque era uma cerimônia oficial de colação de grau como formandos da UERJ, era um direito deles estarem lá, além do que os responsáveis pela unidade em que estudavam, não deram garantias de que fariam a “colação” no dia, semana ou mês seguinte (o que fora infelizmente confirmado, por alguns colegas que ainda não colaram grau , mesmo após mais um mês do evento. Além do mais, a direção recusou uma proposta anterior de fazer a colação de grau na nossa unidade e posterior cerimônia , para quem quisesse, no Teatrão). Assim como (os formandos) expressaram o desejo de participarem, comparecendo junto com seus outros colegas, pois estudaram juntos 4 (quatro) anos, e não seriam constrangidos em estarem ali, muito pelo contrário, teriam orgulho.

Neste instante as centenas de pessoas presentes na platéia e os mais de cem formandos no palco, além dos na primeira fileira, assim como os assistentes, seguranças, professores e outros , levantaram-se e não se fizeram de rogados, pois entusiasmados com tais palavras, vibraram e vibraram, além de aplaudirem de pé e assobiaram como forma de concordância.

As palavras do Diretor, falando mal da comissão que organizara a formatura, assim como também caracterizando as músicas de entrada dos formandos como apelativas, insignificantes, desprezíveis e que demonstravam uma apologia ao imperialismo ianque, à guerra, e que nós não éramos campeões de coisa alguma, levou a todos a ficarem estarrecidos, indignados, boquiabertos e sem entenderem coisa alguma. E isso tudo depois dele começar falando bem de Darcy Ribeiro e Leonel Brizola, que em matéria de educação, são marcos na história recente. Pois como o Diretor de uma Faculdade de Educação, poderia se mostrar sem educação, justamente naquele momento, naquela encantadora noite. Que exemplo ele estaria dando para as pessoas presentes, novamente desrespeitando seus próprios alunos

Como quebrar aquele silencio sem graça? Como não se entristecer com tudo aquilo? Como restabelecer a alegria e levantar a moral de todos os presentes depois de palavras tão ultrajantemente cruas, inconvenientemente rudes e secamente frigidas que levaram a todos se sentirem perplexos e indignados?

- Não se sabia!

Como resposta irônica, os formandos que estavam sentados no palco atrás do diretor , aplaudiram , e outros, levantavam cartazes demonstrando reprovação a aquela atitude.

Abatidos, porém impulsionados por tais palavras duras e impróprias, a platéia indignou-se e começou a vaiar e usar palavras chulas. Em seus olhos, que antes brilhavam de alegria, sentiam angústia por tal cena, pois sentiram aquilo como um duro golpe de machado em uma jovem planta que acabara de ver seus galhos se formarem. Pareciam foices bem afiadas, que cortavam o ar, no sentido de derrubar qualquer obstáculo, e esta parecia ser a felicidade dos formandos.

Aquelas palavras que ecoavam, eram como uma tempestade raivosa, que desejava devorar, varrer do mapa, um lindo pomar florido. Eram como um banho de água fria (à 0º) em um casal de namorados nus em seu primeiro encontro. Eram como uma densa nuvem “carregada”, que surge do nada, em um lindo dia de céu azul, levando à decepção todos os que estão se deliciando no sol e/ou na praia.

Todos estavam no mínimo tensos e aquela noite parecia que iria ser lembrada como a vitória do mal-amado sobre a boa vontade e a alegria, pois aquilo havia sido um duro golpe. Porque antes tudo estava lindo e encantador, e não aceitavam aquelas críticas infundadas e totalmente fora de ocasião. Muitos já inconformados, sentiram-se tristes por seus queridos que estavam naquele palco, e por sua vez, os formandos sentiram-se quase que indefesos diante de tal agressão.

Naquele instante o representante da comissão, que fora um dos responsáveis por toda a organização e que estava como apresentador do evento, sentiu o sangue correndo mais forte em suas veias. Sua pulsação, que já não estava normal, quase explodira. Em seu semblante podia ser notado um misto de decepção, inconformismo e revolta. Como o diretor pudera fazer aquilo? Questionava-se em sua mente.O que responder e dizer diante de tal agressão?! Como se defender perante tal adversidade. Como se mostrar seguro e firme, quando fora nocauteado, esfaqueado e despido ante todos os seus colegas e amados.

Bem, mesmo que o agressor desejasse inferiorizá-lo e enfraquecê-lo, tudo aquilo apenas lhe dava mais força. Era como se ele fosse o por voz da indignação de todos os presentes, canalizando forças e coragem para conseguir abrir a boca, e responder à altura, toda aquela provocação. Não com ofensas, palavras de baixo calão, expressões de mesquinhagem ou ataques pessoais, muito menos palavras que ofendessem a todos os presentes. Não se desejava isso, mesmo porque as centenas e centenas de pessoas que estavam lá, foram assistir a uma Cerimônia de Colação de Grau – uma formatura – de educadores, universitários de uma instituição pública reconhecida nacionalmente. E sendo assim, não se podia “baixar” o nível, não se podia fazer um “barraco”.

Catapultado no meio de todos os olhares, a respiração do apresentador ficou ofegante, porém ele mostrara-se firme como os seus colegas assim desejavam e determinado como um rio em direção ao oceano, em função de encerrar aquele evento da melhor maneira possível. Suas palavras foram, em princípio, de agradecimento ao Diretor e seu Vice, e depois como resposta exclamou:

_ Sr. Diretor, gostaria de dizer que nós aqui não ofendemos ninguém, e não fizemos apologia a nenhuma guerra, muito pelo contrário, amamos a paz e acreditamos na democracia, e não fomos a favor de qualquer autoritarismo!

_ Gostaria de dizer também, que não estamos aqui à toa, nós trabalhamos e estudamos muito, mas muito mesmo para podermos estar neste lugar, neste espaço e nesta noite. E temos muito orgulho disso. Digo ao senhor, que nós somos sim, campeões! Somos verdadeiros campeões! E não só esta noite, por que conquistamos tudo isso!

E com estas palavras inflamadas e com muito orgulho, deu encerramento à cerimônia de formatura. E dançando ao som dos Beattles, ao se iniciar o fechamento das cortinas, fora ovacionado por todos os presentes.

Os gritos eufóricos de apóio, os assobios de alegria, as lágrimas de felicidades e as palmas das pessoas que com isso se levantavam, foram instantes mágicos, inesquecivelmente encantadores, e sem volta, ou seja, ninguém, poderia arrancar aquela última vitória, que não fora apenas dele, mas de toda a comissão, assim como dos formandos e convidados presentes.

[...]

Sensações e sentimentos à parte, participar de tudo aquilo foi algo inesquecível para mim, pois estar com meus colegas de curso e/ou faculdade em momento tão solene foi uma alegria quase que indescritível. Vi o brilho nos olhos das pessoas, a satisfação de cumprimento de dever, e de alívio por ter ultrapassado mais um desafio. Constatei, na saída do evento, o quão felizes, alegres, emocionados, e principalmente orgulhosos estavam os familiares e outros convidados das pessoas. Enfim, notei que abraços calorosos e beijos apaixonados não deixaram que qualquer sentimento negativo se fizesse presente no término daquela noite.

No fim, tudo terminou bem, por mais delirantes que tenham sido as últimas horas da noite da minha (nossa) formatura, em 03 de maio de 2005.

Dedico estas palavras a todos os meus queridos(as) que puderam ir, assim como às outras encantadoras pessoas que estavam lá em pensamento, ou que infelizmente não pude convidar em função da limitação do espaço. Enfim, a todos vocês, sem os quais não teria porque me emocionar em reviver tudo aquilo.