domingo, julho 24, 2005


Turma da Legião

LEMBRANÇAS

( O MANIFESTO)

Por Maurício de Oliveira

“... devemos ou não nos arrepender do que fizemos ou virmos a fazer?”

“... pra voltar atrás em nossas decisões, é preciso muito mais do que força de vontade, é preciso coragem para assumir as conseqüências de um erro”.

“... às vezes sabemos o que temos que fazer, mas nem sempre encontramos forças para tal. É uma espécie de medo e vergonha, misturado com a vontade de não ferir e de não magoar ninguém . O problema é que as pessoas não se preocupam, não pensam em você , e quase sempre te ofendem, além de não importarem com o que você sente ou deixa de sentir.

De repente, como num surto epidêmico, começam novamente as especulações de que a alguns míseros bilhões de anos atrás, existiu alguma espécie de vida primitiva no Planeta Vermelho, e com isso abrem-se novas portas para se gastar mais alguns bilhões de US$ e as polêmicas descobertas sobre o nosso Universo. Realmente são gigantescos passos para a humanidade e assim desvendarmos muitas de nossas curiosidades sobre o surgimento científico de nós mortais. Mas, vez por outra me questiono sobre as condições “primitivas” de milhões e milhões de seres como nós, nos quatro cantos do nosso planeta. Muitos fugindo da fome e das inacreditáveis condições adversas à sobrevivência humana. Outros sem poder ao menos sentir o prazer e a sensação de caminhar livremente por onde quiserem, sem o perigo de projéteis perdidos os acharem, ou ao menos dormirem sem ver e sentir explosões de bombas ao seu redor.

Mas se o desenvolvimento bate a nossa porta, ou em outras talvez, então por que não deixar ela entrar? Mas poucos se perguntam quem é que vai se desenvolver mais, se é quem cede ou quem recebe , e quais os parâmetros e compensações exigidas para tais cessões.

Desvinculando um pouco a nossa ótica, ponho em foco agora as lutas e guerras. E se ao mesmo tempo dois adversários evocam o provérbio: “Se Deus é por nós, quem será contra nós”.

Então cantaremos, como já dizia a Canção do Senhor da Guerra(Legião Urbana) mas lembre-se sempre que Deus está do lado de quem vai vencer. E ao cantarmos “O Senhor da Guerra não gosta de crianças”. Lembraremos que a nossa capacidade criativa destrutiva, é impressionantemente fantástica , mas que a nossa insensatez e arrogância tornam-se cada vez mais promíscuas e desumanas.

Dizem (mais quem? Senão nós mesmos), que nós “Homo Sapiens” somos desenvolvidos, pois andamos eretos, com dois pés, possuímos um sistema respiratório, sangüíneo, digestivo e motor evoluídos, além de uma mente pensante e criativa, o que de certo modo não deixa de possuir as suas verdades, mas a cada ano que se passa, novas mudanças, culturas e conceitos são incorporados à nossa história.

Nesse nosso século XX, testemunhamos significativos acontecimentos, dos mais diferentes espécimes, desde o desmantelamento do Império austro-húngaro no começo do século, passando pela perda de poder da super Inglaterra, das demonstrações de grandeza dos alemães perante o mundo, nas 1ª e 2ª Guerras , da capacidade nipônica de superar o fantasma nuclear, da paciência milenar chinesa em esperar a devolução de Hong Kong, das mentiras do nosso golpe militar, da queda do Império Soviético e do asfixionamento do povo cubano perante o Império Ianque . Da criação do Estado Judeu e do sofrimento dos palestinos em terras, que segundo a Bíblia, o filho do criador nasceu, da descoberta de pergaminhos no Mar Morto, do homem chegar ao espaço e pouco tempo depois pousar na Lua. Da facilidade de se comunicar de um aparelho celular com alguém do outro lado do mundo. Do aniquilamento de nossos índios e do esquecimento de nossos subnutridos, até a qualquer greve de fome dos presos de algum presídio ou a fuga de presos da delegacia do lado de nossas casas, sem esquecer da escolha de Sidney como sede dos jogos olímpicos do ano 2000 (Atenas-2004) e a briga ferrenha que a Cidade Maravilhosa travou, com muita dedicação , pelos jogos de 2004.

Tudo isso e muito, mas muito mais, nós acompanhamos , mesmo que através de livros, revistas, jornais, ou do fantástico meio de comunicação e influenciador que é a TV.

Mas nós ,seres habitantes desse encantador e lindo planeta, nunca estamos satisfeitos com nada, e nem podemos estar, pois incontáveis coisas ainda hão de surgir diante de nossos olhos.

Eu particularmente me sentiria realizado, se pudesse, na companhia das pessoas que amo, conhecer todos os caminhos do Rio Amazonas, passar pelo Pantanal, conhecer a Chapada dos Guimarães, presenciar a Pororoca em Marajó e tocar em um dos búfalos que lá existem, vasculhar os caminhos de uma gigantesca caverna na Bahia, tomar banho nas águas cristalinas de Fernando de Noronha , mergulhar em um lago manso perto das Cataratas do Iguaçu, visitar as Pirâmides do Egito, sentir a leveza do Mar Morto, um pouco de frio no Pico Evereste , navegar no Rio Jordão, andar de trem pelas terras dos Czares russos, atravessar a imponente Muralha do China , olhar da janela do último andar do edifício mais alto do mundo (torres gêmeas da Malásia) pedalar nas ruas de Pequim, entrar na Cidade Proibida , depois ir à milenar Índia e pisar no Tadji Mahal, caminhar em um dos lados do Grand Canium, e percorrer todos os quilômetros do maior e mais antigo metrô do mundo (o de Londres), subir no espetacular castelo do Kremlin, sem esquecer o do Conde Drácula , apertar a mão de Fidel Castro , sobrevoar a Cordilheira dos Andes, ir à Terra do Fogo, depois a Antártida, ao Polo Sul e ao Norte, assistir das areias do Havaí a um campeonato de surf, subir na Estátua do Liberdade, na Torre Eifel, na Torre de Pisa e depois ir ao Coliseu. Observar com meus próprios olhos as ruínas da Antiga Grécia e da sua rival Turquia. E antes de percorrer o Rio Nilo, fazer um reconhecimento da área do velho Chico (Rio São Francisco). Utilizar como meio de locomoção, apenas por algumas horas, um gigante elefante nas ruas da Tailândia e depois um camelo nas do Marrocos, descer em uma das incríveis minas de diamante da África do Sul, dançar com algumas meninas em Madagascar, depois um frevo nas ruas de Recife, uma noitada nas areias de Salvador, uma festa de “São João” em Campina Grande, e uma festa do Boi Bumbá em Parintís. Isso tudo sem contar um filme no Planalto Central – nas rampas do congresso – em Brasília.

Uau! Mais que cara chato.

Isso é para vocês perceberem como é difícil dizer que um mortal está totalmente realizado.

Mas descendo um pouco do pedestal, sinto-me momentaneamente satisfeito, em já ter conhecido algumas das belezas do Mundo, como a nossa Cidade Maravilhosa, o por do sol no meio da Baía de Guanabara, a cintilante harmonia de algumas cidades fluminenses, paulistas e mineiras . Mais inesquecível mesmo, uma dádiva deslumbrante , e um verdadeiro paraíso que já visitei, foi a Ilha Grande , no litoral sul do Rio, com um mar verde misturado ao azul que nos leva aos sonhos, eu até hoje só vi lá, assim como também o encontro das águas de uma cachoeira com as do mar.

- Tudo bem, tudo bem! Eu como sempre sou um sonhador.

Mas antes de fincar os meus pés no chão, comentarei sobre algumas lembranças de uma época a poucos anos atrás, em que as pessoas eram mais felizes e alegres ou para outros o martírio era compensador, apesar de incontáveis dificuldades que muitas vezes passamos.

Foi um tempo em que a bipolarização ainda existia, em que a direita era a “direita” e a esquerda era a “esquerda” , e os tucanos que ainda eram apenas aves com um bico grande, surgiram e começavam a tricotar para ficarem encima do muro . O Lula começava a Ter projeção nacional e o Brizola era aclamado em todos os quatro cantos em que aparecesse . Os U.S.A. ainda passavam a imagem de super-homem para a gente , e nos telejornais de certa emissora, diziam que os soviéticos comiam criancinhas .

O Apartheid fazia com que todos falassem da África do Sul e de todo aquele continente . O Iraque antes de enfrentar todo o mundo sozinho , saia da guerra com o Irã e o Aiatolá Komeine deixava de dar as cartas , para descansar em seu sono eterno.

Nos bastidores internacionais , diziam que a França e a Inglaterra gostavam tanto, mais tanto da Alemanha, que prefeririam que existissem duas , as quais permanecessem separadas pelo Muro de Berlim . A Cortinas de Ferro ainda era famosa na imprensa, mas aos poucos tornava-se cada vez mais de vidro.

Poucas pessoas sabiam que havia uma doença sem cura chamada “AIDS”, e que existiam cobaias para tudo o que experimentassem , mas as pesquisas eram um pouco mais sigilosas quando se tratavam de seres humanos.

Famosos astros internacionais cantavam uma mesma música e faziam campanhas para salvar a Etiópia mergulha na fome e na miséria que seus próprios países subsidiaram .

Direto do nosso Nordeste, a seca era mostrada em nossas telas de TV (é claro de quem as possuíssem), e nossos artistas cantavam também uma mesma música , para tentar aliviar um pouco a agonizante miséria de nossos irmãos nordestinos , mas enquanto isso, os “coronéis” de lá continuavam a mamar nas tetas do governo e a beber das águas mais límpidas dos numerosos mananciais que lá existem.

A nossa Usina de Itaipú começava a funcionar e a afastar o perigo de blecautes em nossas grandes cidades, e por falar nelas , inchavam cada vez mais , com suas favelas e mendigos pelas ruas, que por sua vez se tornavam mais estreitas para abrigar pedestres e os nossos famosos camelôs, que se tornavam os seus mais novos habitantes.

Acontecia também o acidente com uma usina nuclear na Ucrânia e pouco tempo depois, aqui tão perto em Goiânia, inocentes sem instrução e famintos mortais, destruíam uma cápsula de Césio 137, para depois venderem o que pudessem para o ferro-velho, e assim conseguissem realizar seus sonhos alimentares, mas as conseqüências foram desastrosas.

Enquanto isso a nossa Usina de Angra dos Reis mostrava as suas faces e era cantada pelo grupo Legião Urbana . E quem não tinha dinheiro para poder ir ao cinema, assistia na telinha da TV , ao filme “The Day After”.

Pouco tempo depois, os Trapalhões iam perdendo a graça, o Perdidos na Noite estava marcada para acabar, com a saída do seu maestro Fausto Silva, os desenhos do Pica Pau, Zé Colmeia , do Leão da Montanha e dos Erculóides não passavam mais . O Ultraman estava morrendo e a Patrulha Estelar achava o seu caminho. O Pinóquio virava gente e vivia feliz para sempre com o velho Gepeto , o Sítio do Pica Pau Amarelo dava adeus aos seus admiradores e o King Kong (desenho) conseguia viver na selva .

Enfim , a pureza e a inocência de nossas crianças davam lugar a necessidades de sobreviver no meio de tanta injustiça . Inúmeras deixaram suas escolas a procura de vagas no mercado de trabalho, e outras davam “até logo” para suas famílias no interior e se aventuravam em seus novos sonhos, nas fabulosas “Cidades Grandes”.

Como o nosso Renato Russo falava:

- Era muito mais fácil entrar para as Forças Armadas do que estudar até a conclusão do 1º Grau. E terminava dizendo:

- Somos soldados / pedindo esmolas/ a gente não queria lutar...

Eu quando criança, se consegui-se jogar “bola de gude”, ou “pião” era o máximo, e junto com os outros, me lembro, achávamos engraçado as meninas brincarem de “queimado”. À noite não rondávamos a cidade a procurar ninguém , pois éramos crianças sadias, alegres e além de tudo ingênuas, e ficar até altas horas da noite (ou da madrugada) brincando de pique esconde, pique bandeira, pique ajuda ou garrafão, era tudo o que queríamos e o suficiente para nos manter satisfeitos e felizes.

Hoje em dia por mais que tentarmos contar para os outros mortais, poucos entenderão o que tudo isto significou e ainda representa.

Poucos tiveram tanta infância quanto eu , e muitos poucos ainda guardam ao seu redor e a seu lado, os amigos que o ajudaram a crescer e a se desenvolver. Não me lembro de ninguém nesse momento (14h09 do dia 14 de novembro de 1996) para poder tomar como parâmetro.

Recordo que no colégio, era até engraçado e trágico ao mesmo tempo, os colegas comentando sobre algum filme que passara na TV, e em determinado momento para identificar alguns personagens, falavam sobre a cor das roupas ou do carro que eles estavam, para podermos lembrar quem era, mas para muitos (inclusive eu) tornava-se uma tarefa mais difícil ainda, pois no veículo de imagens que eu assistia, todos tinham quase a mesma cor do carro ou quase a mesma roupa, pois o vermelho era preto, o azul era preto e o verde se aproximava do preto. E o amarelo e o laranja eram eternamente brancos. Acho que essas coisas não se comentam mais.

Não sei se todos passaram a mesma experiência que eu, mas quando no último dia 03 de outubro de 1996, entrei na escola onde voto e lembrei que foi lá que eu estudei na infância, e por coincidência na mesma sala que freqüentei, observei as paredes à minha volta e algumas mesas e cadeiras que estavam dentro, e num ar saudosista e/ou nostálgico, comentei com alguns mesários que se encontravam ali dentro: “puxa, essa sala era tão grande!”.

Quando sem muito entender o que eu falara, uma das pessoas presentes disse :

“É eu acho que eles construíram aquela parede ali, para fazer outra sala ao lado”.

Foi quando numa espontaneidade tremenda comentei: - Não, não é isso. É que à época em que eu estudava aqui, eu era tão pequeno, que qualquer lugar que fosse, qualquer coisa, era enorme, e neste momento a minha mente se transportou a quase 14 anos atrás, e me trouxe algumas lembranças; mas tudo bem, a vida é assim mesmo, o tempo tem que passar, nós temos que crescer e se desenvolver, e não esquecer todas as lições que a vida nos ensina.

Na nossa adolescência, como a de milhares e milhares de jovens haviam algumas tendências e incertos caminhos a seguir , e você tinha que optar por um, para poder ter uma base e depois quem sabe conquistar todos os seus sonhos. E hoje quer aceitemos ou não, guardamos muitas coisas daquela época linda, e no nosso caracter constam muitas influências daquele tempo.

Hoje é difícil nos grandes centros, só para se ter uma idéia, encontrar crianças tão inocentes e ingênuas como a alguns anos , os adolescentes não ouvem, nas nossas rádios, muitas músicas construtivas como antes, e as bandas que nos ajudaram a se formar, como o Ultraje a Rigor, Ira!, Capital Inicial, Plebe Rude, sem contar a inigualável Legião Urbana, que a tantos inspirou, e Os grupos “sobreviventes” como os Titãs, os Paralamas, o Barão Vermelho, os Engenheiros e alguns outros mais.

O mundo agora é outro, o público jovem aprendeu a ver mais televisão, a ouvir outros tipos de canções e a pensar em outras idéias e ideais.

Os nossos favelados agora têm TV em cores , e se bombear até celular, mas quando põem os pés fora de suas moradias, se é que podemos chamar assim , se apertam em seus guetos e se confundem em suas vielas.

Esta é a realidade que nem sempre queremos aceitar.

E quando te disserem: Esse cara é bom, pode confiar!

Confie, mas sempre desconfiando. Não sei se esse pensamento é o certo, também quem sou eu para afirmar tal coisa, contudo felizmente (ou infelizmente) nós não somos iguais, e ninguém é. Em nossa mente, ninguém saberá “ ao pé da letra” o que se passa.

Não confunda prosperidade econômica e financeira, com cultura e educação. Não aceite eternamente a primeira impressão como sendo a que fica, mas procure passar a sua primeira impressão como sendo a mais sincera e mais profunda possível. Não devemos nos esquecer que tudo começa por nós mesmos, pela maneira como aceitamos as coisas que nos são passadas ( e quase que impostas) , a forma como assistimos e participamos dos acontecimentos ao nosso redor , dos atos e atitudes diante das dificuldades da vida , dos nossos males e deficiências, das acusações, de nossas compreensões, das nossas falsidades, do nosso companheirismo e do nosso eterno e grande amor .

Não devemos esquecer de que a vida é bela. De que existe jeito para tudo. E que a nossa mente só usa 5% de nossas reservas cerebrais . Lutar é preciso, já os nossos oponentes somos nós que o criamos e construímos. Isso devemos lembrar.

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